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sexta-feira, 4 de março de 2011

Do potiguar ao papa-jerimum

Deve ser potiguares, como diziam os portugueses, derivado de potiguara, papa-camarões, apelido de uma nação dos tupis do Nordeste (...). Hans Staden (Viajante e cronista alemão - séc. XVI)

Do mar, um dos crustáceos mais conhecidos e apreciados na culinária brasileira, o camarão! A iguaria reina nas regiões praieiras do país, como petisco ou como ingrediente principal, melhor dizendo, indispensável em alguns pratos emblemáticos da cultura gastronômica nacional, como o vatapá, o caruru, o bobó de camarão, entre outras preparações. Não é de se estranhar a presença do camarão na nossa culinária, nem o fato de sermos conhecidos como potiguares. O significado do nome pode ser traduzido como "comedores de camarões" ou "papa-camarões". Na verdade faz-se referência aos Potiguara, pertecentes à família linguística Tupi-Guarani, índios que residiram no Nordeste brasileiro. Pois é, herança indígena, nome que perdura até hoje! Outra denominação bastante conhecida para os norteriograndenses é o papa-jerimum.



Nos verbetes do Dicionário do folclore brasileiro encontra-se referências para responder porque papa-jerimum é o nome dado aos norteriograndenses. Esta versão funda-se numa tradição de que o então presidente de província Lopo Joaquim de Almeida Henriques, que administrou de 30 de agosto de 1802 a 19 de fevereiro de 1806, mandou fazer roçados de mandioca e melancia (não se fala nos famosos jerimuns) e com elas pagara "possivelmente" aos funcionários públicos com essas espécies. No ano de 1906, no Jornal Diário de Natal, na coluna intitulada "De meu canto", o autor sob pseudônimo "Neto", publicou a pretensão do então governador Pedro Velho de pagar aos funcionários com salários em atraso, com jerimuns, fazendo alusão ao presidente de província Lopo Joaquim, citado anteriormente. Nesta coluna, o autor acusa o governador de plantar jerimuns nos jardins públicos da cidade. (Texto extraído do Livro Arte e rituais do fazer, do servir e do comer no Rio Grande do Norte - Uma homenagem a Câmara Cascudo. SENAC Nacional, 2007).


Como disse Daliana Cascudo (neta do poeta Câmara Cascudo) em seu livro: Rio Grande do Norte - Cozinha Regional Brasileira, "O povo potiguar já nasceu imbuído da própria culinária". Ou seja, somos potiguares "comedores de camarão", descendentes dos Tupis que habitam as margens do Rio Paraíba do Norte. E nossa alcunha é papa-jerimum, nome decorrente do fato de os antigos presidentes da província pagarem salários atrasados com as famosas abóboras ou ainda morangas - como são conhecidas no sul do país.


Somos ainda abençoados pelo belo litoral que nos presenteia com ricas iguarias, como os frutos do mar: o camarão - onde o estado do RN encontra-se na segunda posição como um dos maiores produtores deste crustáceo no Brasil, o caranguejo presente também nas mais importantes receitas potiguares, os peixes menores, como o cangulo, a sanhoá, a biquara e a carapeba, que são normalmente fritos com azeite-de-dendê e servidos com legumes ou tapioca, muito utlizado na receita batizada como "ginga com tapioca". Já no interior do estado, existem produtos que são a base da alimentação de um povo que sobrevive da pecuária, dos subprodutos derivados do leite e da carne, que são de encher os olhos e a boca. Entre os mais utilizados estão o queijo manteiga, queijo de coalho e a carne de sol.

Das gostosuras históricas que o estado do Rio Grande do Norte pode ofertar estão: o milho, o feijão-verde, o arroz de leite, o jerimum e a mandioca. A buchada de bode, a paçoca de carne de sol, farofa d'água ou do sertão, o picado de carneiro, entre outras comidas substanciosas, que nutriram e nutrem ainda hoje muitos sertanejos e agradam os mais diversos paladares que se aventuram a desfrutá-las. Enfim, essa é um pouca da nossa história e cultura gastronômica.

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